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Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.
Este texto teve a colaboração de João Lopes.

Teorias para as diferentes tendências de preço do boi gordo no território brasileiro

Crescimento das cotações em São Paulo e queda no restante do país produziu aumento significativamente no basis ao redor do país

No dia 24 de fevereiro, a atualização diária dos preços de boi gordo feita pelo CEPEA, mostrou números curiosos. Em especial, chamou a atenção a grande disparidade entre os preços paulistas, estado de referência, e os do restante do país. Fazendo uma média para cada um dos quatro estados que, junto com São Paulo, são os que mais abatem animais, o basis era de mais de R$ 20,00/@ em Minas Gerais e de mais de R$ 30,00/@ no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e em Goiás.

Cotação e diferencial de base do boi gordo nos principais estados produtores (R$/@)

Fonte: CEPEA. Elaboração: StoneX.

Essa disparidade é resultado das diferentes tendências apresentadas pelas praças do país em 2022. Analisando os dados do CEPEA para as últimas quatro semanas, percebe-se que em três delas o boi gordo atuou com valorização em São Paulo. No agregado do período, os ganhos foram de praticamente R$ 8,00/@. Pelo outro lado, nos outros principais estados produtores de bovinos, o último mês foi de desvalorização em três das quatros semanas. No agregado do período, as perdas somaram R$ 8,76/@ em Minas Gerais, R$ 7,94/@ no Mato Grosso do Sul, R$ 6,06/@ em Goiás e R$ 5,25/@ no Mato Grosso. Assim, o basis acabou disparando, gerando a forte diferença de preços mencionada no primeiro parágrafo.

Fonte:  CEPEA. Elaboração: StoneX.

Frente a isso, as tendências de preço apontadas tem sido alvo de contestações, visto que, de acordo com esses questionamentos, não refletiriam a realidade do mercado físico. Isso estaria acontecendo porque em São Paulo os indicadores estariam captando em excesso os animais destinados para a exportação. Em outras palavras, enquanto no restante do país os cálculos de cotação estariam contabilizando as negociações de todo tipo de animal destinado ao abate – então, não só boi China, mas também bois voltados ao setor doméstico e vacas engordadas -, em São Paulo as vendas do valorizado animal do tipo exportação estariam apresentando uma participação acima da “realidade” durante o cálculo dos preços, não refletindo as verdadeiras condições do mercado.

Uma outra hipótese, também bastante discutida dentro dos círculos da pecuária, é a de que realmente existe uma proporção maior de vendas voltadas para a exportação no estado de São Paulo, o que estaria produzindo essa discrepância nas tendências. Como se sabe, os pecuaristas e os frigoríficos estão enfrentando um cenário de enfraquecida demanda doméstica e robusta procura externa. Sendo assim, o boi que possui os pré requisitos necessários para ser vendido para a China – a saber, abate com menos de trinta meses, no máximo quatro dentes incisivos, possuidor de GMT, entre outros detalhes – está se valorizando, enquanto o animal destinado ao mercado doméstico está sofrendo com perdas. Dentro desse arcabouço, a maior participação das exportações nas vendas dos frigoríficos paulistas refletiria sim a realidade e estaria produzindo ganhos no momento em que o restante do país sofre com perdas.

Essa teoria ganha força quando se compara o volume de abates com o número de frigoríficos com permissão para exportar para a China por estado. Os dados do IBGE para o 3° trimestre de 2021, os mais recentes disponibilizados, mostram que São Paulo é responsável por cerca de 10% dos abates do país, porcentagem compartilhada com Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Já a análise dos dados do Ministério da Agricultura (MAPA) indicam que 24,3% das indústrias capacitadas a vender em território chinês são paulistas, enquanto o restante dos estados produtores mencionados têm participação similar a dos abates: 10%. Ou seja, esses números indicam que a parcela da produção dos frigoríficos paulistas destinada ao mercado externo é muito superior que a dos outros estados do país, o que justificaria esse peso excessivo do boi China nos cálculos do CEPEA e a consequente discrepância de tendências.

O estado que pode trazer certa contestação a essa lógica é o Mato Grosso. Lá é onde ocorrem aproximadamente 16% dos abates e onde 21,6% dos frigoríficos do país liberados para exportar para a China estão localizados. Esses números mostram um “excesso” de 5,6 pontos percentuais e mesmo assim o estado vem enfrentando desvalorizações nas últimas semanas, o que é um furo na lógica de que uma maior participação dos animais voltado para exportação produziria valorização. A tréplica para essa questão seria o fato de que esses 5,6 p. p. a mais não se comparam com o excesso de 14,3 p. p. registrado pelas praças paulistas, além da realidade de que a desvalorização no Mato Grosso foi menos intensa que a dos outros estados.

Frigoríficos com licensa para exportar para a China e abates por estado (percentual do total)

Fonte: CEPEA e Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento (MAPA). Elaboração: StoneX.

Um outro ponto que coloca em xeque a teoria do excesso de boi China em São Paulo é a questão apontada acima da livre circulação de mercadorias dentro do Brasil, que tendem a tornar homogêneos os fundamentos de oferta e demanda do país. Frente a essa lógica, não há como fazer grandes contestações. Entretanto, vale a pena notar que, após três semanas de desvalorização, os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais postaram ganhos nos sete dias que se encerraram em 18 de fevereiro. Portanto, é possível que o ajuste teórico estabelecido pela lógica de mercado tenha começado a entrar em vigor, corrigindo esse aumento do diferencial de base.

Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.
Este texto teve a colaboração de João Lopes

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