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Inteligência de Mercado

Contextualização climática e perspectivas para as importações de açúcar pela União Europeia

O clima adverso sobre a Europa nos últimos meses reforçou as perspectivas de quebra de safra da beterraba que será colhida para a temporada de 2020/21 (out-set). Dados divulgados pela Comissão Europeia em setembro projetaram uma produtividade média de 73,0 t/ha para a União Europeia, queda de 2,1% frente à média de 5 anos. Desde então, as condições climáticas continuaram pouco favoráveis ao desenvolvimento final do tubérculo, o que pode se refletir em rendimentos ainda mais baixos no consolidado do ciclo corrente.

Para os próximos meses, as perspectivas já sinalizam um possível aumento nas precipitações sobre importantes regiões produtoras, o que tende a ser negativo para o andamento da colheita da cultura em 2020, mas favorável ao plantio da beterraba que será realizado a partir do fim do 1º trimestre de 2021. Diante deste contexto, ao longo dos próximos parágrafos, apresentaremos nossa análise para os principais players do setor açucareiro europeu, tanto no curto quanto no longo prazo.

 

Impactos climáticos sobre a beterraba até agora e a conjuntura para a produção de açúcar na União Europeia em 2020/21 (out-set)

Conforme há muito discutido, a falta de chuvas prejudicou o desenvolvimento da beterraba ao longo de grande parte de 2020. Ainda assim, vale mencionar que a menor produtividade esperada também deve ser resultado da proibição do uso de neonicotinóides no tratamento de sementes na UE, uma vez que esse cenário levou ao aumento do ataque de pulgões e, consequentemente, à maior incidência do vírus amarelo sobre as lavouras. A menor área destinada à beterraba, por fim, também contribui para a menor fabricação da matéria-prima.

Para a França, o principal produtor da União Europeia, o Ministério da Agricultura do país estimou que a produção do tubérculo na safra corrente totalize 30,5 milhões de toneladas, queda de 1,7 milhão no comparativo com as estimativas de setembro, conforme comentado aqui. Ademais, esse volume representa uma retração de cerca de 20% frente à fabricação registrada em 2019/20.

No caso da Alemanha, o segundo maior produtor do bloco econômico, o quadro é similar. A área destinada a colheita na temporada de 2020/21 deve recuar no comparativo anual, de 372,3 mil hectares para 349,9 mil hectares – a menor extensão desde 2016/17. Em termos de produção de açúcar, a previsão também é de queda em relação a 2019/20, na ordem de 2,4%, para 4,1 milhões de toneladas.

Não somente as atenções estão focadas na UE, mas também no setor açucareiro da Rússia, tendo em vista a forte queda no rendimento agrícola esperado para as lavouras em 2020/21, na ordem de 18,2%. O Instituto para Estudos de Mercados Agrícolas da Rússia (IKAR) estima que a produção da commodity possa variar entre 4,9 e 5,3 milhões de toneladas em 2020/21, podendo representar uma queda anual de entre 28,7% e 27,7%, respectivamente.

Neste sentido, vale mencionar que a estiagem sobre o país, além de afetar negativamente o desenvolvimento da beterraba, fez com que o solo se mostrasse muito mais seco em relação à normalidade, dificultando o arranquio dos tubérculos e resultando em maiores perdas de produção.
Ainda que as indicações sejam de que as reservas de açúcar na Rússia estejam em patamares mais elevados, resultado da produção volumosa das últimas safras, é possível que esses excedentes não resultem, necessariamente, em maiores exportações. Isso porque o país possui diversos entraves logísticos para escoar a commodity para o mercado externo, limitando as vendas para outros polos consumidores que não aqueles inseridos na Eurásia.

Toda essa dinâmica reforça as expectativas de que a União Europeia amplie seu papel de importador líquido em 2020/21, de maneira similar ao que foi observado em 2019/20, e que o consumo adicional seja suprido por produtores de outros continentes. Para isso, o bloco precisaria ampliar suas cotas de importação ou, por outro lado, reduzir a tarifação incidente sobre compras de açúcar que excedam a cota determinada para o ciclo corrente.

Parece pouco provável que países exportadores pertencentes ao grupo EPA/EBA (nações subdesenvolvidas da África, Caribe e Pacífico que têm acesso livre ao mercado europeu) tenham capacidade de suprir integralmente uma demanda extra de países da UE. Tal cenário pode favorecer o Brasil de forma direta (produto brasileiro amplia suaparticipação no bloco) ou indireta (produto brasileiro supre países que deixariam de ser atendidos por outros polos exportadores que, por sua vez, atenderiam a demanda da União Europeia).

Essa análise é fundamental, pois se a União Europeia não ampliar suas importações, os estoques finais de 2020/21 podem ser significativamente menores, especialmente se a produção de açúcar esperada para o ciclo corrente sofrer novas revisões negativas nos próximos meses. Em termos práticos, esse cenário reforçaria os riscos agroclimáticos sobre a beterraba plantada em 2021 e, desta forma, sobre o desempenho do setor açucareiro europeu em 2021/22.

 

Projeções climáticas de curto e longo prazo, e as perspectivas para a produção de açúcar em 2021/22 (out-set)

Embora o clima atipicamente seco tenha pressionado o potencial produtivo da beterraba em 2020, conforme citado anteriormente, é importante nos atentarmos às previsões para os próximos meses. As perspectivas já apontam para chuvas mais abundantes sobre a Europa Ocidental no curto prazo. Para a França, por exemplo, outubro deverá ser marcado por umidade acima da normalidade, ao passo que volumes mais elevados são esperados sobre a Alemanha em novembro.

Em termos práticos, a maior umidade nos próximos meses tende a ser negativa para a colheita da beterraba na temporada de 2020/21 (out-set). De forma geral, esse cenário dificulta a entrada de máquinas, podendo também resultar na compactação dos solos. Além de prejudicar os trabalhos em campo, o processamento da beterraba pode ser mais custoso e demorado, dada a maior necessidade de limpeza dos tubérculos.
Se por um lado as precipitações podem ser ruins para o arranquio da matéria-prima na safra corrente, por outro, a reposição da umidade dos solos tende a favorecer o plantio da beterraba que será colhida para a temporada de 2021/22 (out-set), semeadura que se iniciará entre março e maio do próximo ano. Em suma, é possível observar que o teor de água nas camadas superficial e subsuperficial do solo se mostra positivo na França e na Alemanha.

Tanto que dados divulgados por importante centro germânico de pesquisa ambiental mostram que, nas regiões da Baixa Saxônia e da Renânia do Norte-Vestfália (áreas que contribuem com cerca de 25% e 15% da extensão plantada com o tubérculo, respectivamente), o teor de água disponível para o desenvolvimento vegetal já se mostra mais do que satisfatórios.

De modo geral, as projeções de longo prazo da Comissão Europeia também sugerem que o primeiro trimestre de 2021 seja marcado por chuvas dentro da normalidade em grande parte da UE, sendo que algumas regiões do bloco podem registrar volumes superiores à média histórica – situação que, se concretizada, contribuiria ainda mais com o desenvolvimento inicial da beterraba no próximo ano.

Além do fator climático, a competição com outras culturas que costumam disputar área com a beterraba, tais como milho, canola e trigo, também precisa ser ponderada de modo a traçar perspectivas mais concretas para a oferta de açúcar na União Europeia na safra de 2021/22 (out-set).
Em geral, o calendário de produção do milho é bastante similar ao da beterraba, impedindo que a produção destas duas culturas ocorra no mesmo ano-safra. O mesmo ocorre para a canola e o trigo de inverno, já que, apesar do período ideal de semeadura ocorrer logo após a colheita da beterraba o desenvolvimento dessas culturas se sobrepõe ao do tubérculo.
Neste sentido, nota-se que entre outubro/2019 e janeiro/20, o preço do açúcar banco no mercado internacional não se mostrava competitivo frente às culturas alternativas. Este cenário permanece atualmente, com as cotações da commodity variando em patamares inferiores às do milho e às do trigo – apesar da forte recuperação observada no início de 2020, período em que o #5 traçou tendência majoritariamente altista na ICE/Europe.

Tanto que entre os dias 3 de fevereiro e a última quinta-feira (15), o contrato contínuo do #5 se desvalorizou em 6,9% na bolsa de Londres. Em paralelo, o milho negociado na Matif e o trigo e a canola negociados na Euronext Paris registraram as respectivas variações de +14,6%, +13,8% e +6,0% no período analisado.

Quando consideramos a dinâmica de preço entre culturas concorrentes, as sinalizações apontam para uma possível manutenção ou leve retração da extensão a ser destinada à beterraba no próximo ciclo. No entanto, a intensidade da troca de área tende a ser limitada pelos contratos de longo prazo para a produção do tubérculo. De forma geral, este cenário deve ser acompanhado de perto, já que a compra de sementes tende a ganhar ritmo no curto prazo.

 

Conclusões

Para 2020/21, fica cada vez mais clara a necessidade de importação de açúcar pela União Europeia para que haja manutenção dos estoques. Ademais, as condições climáticas no curto prazo serão fundamentais para determinar se a colheita será, de fato, prejudicada, o que limitaria ainda mais a disponibilidade de beterraba para processamento e produção de açúcar no ciclo corrente.

Em 2021/22, as condições de umidade do solo e as previsões – ainda que preliminares – para as chuvas no longo prazo apontam para ambiente favorável ao plantio e desenvolvimento inicial da beterraba na União Europeia. Ainda assim, a dinâmica de preços do açúcar com outras culturas concorrentes dão sinalização de que pode não haver espaço para ampliação da área cultivada com a matéria-prima sacarina.

Por fim, precisamos ponderar que, até agora, a aplicação de neonicotinóides no tratamento de semente continua proibida na UE, apesar das discussões recentes para a liberação de seu uso em resposta aos prejuízos ocasionados pelo vírus amarelo durante o ciclo de 2020/21. Caso não ocorra uma flexibilização desta restrição, ampliam-se os riscos de que a produtividade da próxima temporada também seja comprometida.

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