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Felipe Sawaia

Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.

Preço pago por animais não acompanha valorização dos grãos

RELAÇÃO DE TROCA PIORA PARA PECUARISTAS EM CENÁRIO MARCADO POR DEMANDA DOMÉSTICA POR PROTEÍNAS ENFRAQUECIDA E OFERTA RESTRITA DE SOJA E MILHO

O milho e o farelo de soja são os principais insumos da ração animal, com destaque para a preponderância do cereal, que gira em torno de 60% dos componentes utilizados.

Em 2021, a quebra significativa da safrinha de milho manteve um cenário de disponibilidade restrita e preços elevados, situação que pesa sobre os custos da produção de carnes, resultando em relações de troca menos favoráveis entre a proteína e o insumo.

Com isso, existia grande expectativa para a safra 2021/22, lembrando que a oferta do cereal no primeiro semestre do ano é garantida majoritariamente pelos estoques de passagem e pela colheita de verão. Contudo, o Sul do Brasil sofreu com a falta de chuvas no desenvolvimento das lavouras e a produção está estimada em 25 milhões de toneladas pela StoneX, volume abaixo do registrado no ciclo anterior e das mais de 30 milhões de toneladas esperadas anteriormente para a safra de verão atual. Diante desse cenário, os preços do milho continuam muito fortalecidos, situação que também tem sido reforçada pelas altas em Chicago, diante do conflito entre Rússia e Ucrânia. A esperança de alívio pelo lado da oferta recai sobre a safrinha, cuja colheita começa somente em meados do ano.

Assim, ao se comparar a relação de troca entre o milho, o suíno, o frango e o bovino em São Paulo, observa-se que o ano de 2022 começou com resultados bastantes desfavoráveis. Antes de falar dos números, é importante relembrar que a relação de troca informa quantos quilos do insumo poderiam ser adquiridos ao vender 1 kg do animal vivo, sendo um dos principais indicadores para compreender como a operação é impactada pela variação nos preços dos grãos.

Com isso, em fevereiro deste ano, 1 kg do suíno vivo equivalia somente a 4,5 kg de milho, relação mais baixa que o observado em todo o ano de 2021 e muito aquém da média de 3 anos. No caso do frango, a relação de troca com o milho em fevereiro ficou em 3,1, nível próximo, mas mais baixo que o registrado no mesmo mês de 2021, quando alcançou 3,2. Os resultados também têm se mantido bastante inferiores à média de 3 anos. Quanto ao bovino, 1 kg do animal em fevereiro “comprava”, 14,4 kg de milho, nível em linha com um ano antes, mas abaixo da média para o período.

Relação de troca entre suíno vivo e milho em SP (kg/kg)

Fonte: StoneX e Cepea. Elaboração: StoneX.

Relação de troca entre frango vivo e milho em SP (kg/kg)

Fonte: StoneX e Cepea. Elaboração: StoneX.

Relação de troca entre boi gordo e milho em SP (kg/kg)

Fonte: StoneX e Cepea. Elaboração: StoneX.

No caso do farelo de soja, o cenário desde o ano passado se difere do observado para o milho, mas os preços também se encontram fortalecidos.

Em 2021, o Brasil colheu uma safra recorde de soja, superando 135 milhões de toneladas, situação que aliviou a oferta da oleaginosa e dos subprodutos após um segundo semestre de 2020 de aperto. Para a safra 2021/22, que está sendo colhida atualmente, as estimativas iniciais indicavam mais um ano de recorde absoluto, com a produção podendo superar 145 milhões de toneladas. Entretanto, a seca no Sul do Brasil afetou fortemente essa perspectiva, com quebras expressivas principalmente no Rio Grande do Sul e Paraná. Com isso, a StoneX estima que a produção vai ficar em apenas 121,17 milhões de toneladas, situação que alimenta a possibilidade de aperto no balanço mundial e que sustenta os preços do grão, com impactos nos subprodutos.

Com isso, a relação de troca entre o suíno e o farelo ficou em apenas 2,4 em fevereiro deste ano, nível consideravelmente mais baixo que um ano antes, quando superava os 3. A relação entre o frango vivo em São Paulo e o farelo apresentou o mesmo comportamento, ficando em apenas 1,7, o que ainda superou o registrado em fevereiro de 2021, mas manteve-se abaixo da média de 3 anos para o mês.

A relação entre o boi gordo e o farelo de soja também vem caindo nos últimos meses, ficando em 7,9 em fevereiro deste ano, nível abaixo da média.

Relação de troca entre suíno vivo e farelo de soja em SP (kg/kg)

Fonte: StoneX e Cepea. Elaboração: StoneX.

Relação de troca entre frango vivo e farelo de soja em SP (kg/kg)

Fonte: StoneX e Cepea. Elaboração: StoneX.

Relação de troca entre boi gordo e farelo de soja em SP (kg/kg)

Fonte: StoneX e Cepea. Elaboração: StoneX.

Além de um expressivo aumento nos preços dos insumos utilizados pelo pecuarista, em especial do milho, um fator importante para entender a deterioração do poder de compra dos produtores de proteína animal é a dificuldade enfrentada por eles para repassar o aumento dos custos para a ponta final da cadeia.

É importante lembrar que o país vem de um período turbulento em função da pandemia, com alta taxa de desemprego, elevada inflação, redução da massa salarial e do poder de compra, fatores que agem contra novas altas expressivas nos preços das carnes. Por mais que as exportações, especialmente as de carne bovina, sigam em patamares elevados, isso não tem sido o suficiente para compensar a resistência do mercado doméstico, que é o principal destino da proteína produzida no país.

Se entre fevereiro de 2021 e 2022 os preços do farelo de soja e do milho avançaram, respectivamente, 14,6% e 15,2% em São Paulo, os preços pagos pelo frango e pelo bovino avançaram 10,5% e 12,8% no mesmo período. No caso do suinocultor, esse cenário é ainda mais alarmante, já que, no intervalo analisado, o preço do animal em São Paulo recuaram cerca de 21,5%.

Ademais, vale um destaque para o setor de bovinos. Ao contrário da produção de suínos e frangos, o uso de ração não é tão disseminado nesse mercado, predominando a alimentação em pasto. Nesse contexto, a aquisição de milho e farelo de soja acaba ganhando mais importância apenas no período da entressafra – aproximadamente entre junho e dezembro – quando alguns pecuaristas optam pela produção em confinamento. Portanto, a análise da relação de troca para a carne bovina traz perspectivas importantes para a oferta dessa proteína no segundo semestre.

Como destacado, a relação de troca da carne bovina com o milho e com o farelo está abaixo da média para os últimos três anos, um indício de que o pecuarista sofreu com encarecimento relativo da ração. Esse fator poderia inibir a atividade do confinamento, diminuindo o volume de animais à disposição dos frigoríficos no segundo semestre.

Entretanto, a ração é apenas uma parte dos custos do produtor. De fato, somente 20% dos gastos com o confinamento é com alimentação. O principal fator acaba sendo a compra dos animais para a engorda, o denominado boi magro.

Nos últimos anos, a oferta desse animal estava bastante enxuta, o que dificultava e tornava cara a sua aquisição. Agora em 2022, após um longo período de retenção de matrizes, estão surgindo indícios de que a disponibilidade de bois magros aumentou. Pelo acompanhamento da StoneX, a média do ágio da arroba do boi magro sobre a do boi gordo no estado de São Paulo em março dos últimos três anos foi de 11,8%. Atualmente, esse ágio praticamente não existe, com a arroba do boi antes e depois da engorda sendo negociada pelo mesmo valor.

Esse barateamento da reposição se caracteriza como uma ótima oportunidade para o confinador, representando uma grande diminuição dos gastos. Portanto, mesmo com o encarecimento da ração, é possível que aconteça um crescimento no volume de animais engordados em sistemas intensivos, já que os custos totais em 2022 devem ser menores que os dos últimos anos.

Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.

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