Paralisação de unidades produtivas não deve afetar disponibilidade no âmbito interno
Neste primeiro trimestre, o mercado brasileiro de fertilizantes adentra seu período de arrefecimento sazonal da demanda. Com o avanço da colheita da soja e o plantio das culturas de segunda safra, como milho e algodão, os produtores locais já se encontram com suas compras de insumos entregues. Não obstante, os fabricantes dos adubos se atentam a possíveis impactos no balanço de O&D nacional no segundo semestre.
Recentemente, o mercado interno observou diversos anúncios de unidades produtivas entrando em ociosidade temporária e outras paralisando as atividades definitivamente, cor-roborando para uma preocupação dos produtores com o nível de disponibilidade dos adubos.
Na última semana, a Petrobrás iniciou seu processo de gradual paralisação da unidade produtiva de Sergipe — com capacidade de produzir 594.000 kmt/ano de ureia, 412.500 kmt/ano de amônia e 303.000 de Sulfato de Amônio —, seguindo o plano da estatal em reduzir sua presença no mercado de adubos nacional. A empresa anunciou em 2018 que iria lentamente diminuir sua produção de fertilizantes nas plantas de Camaçari (BA) e de Laranjeiras (SE), abrindo possibilidade de venda de ambas as unidades.
O início do processo de paralisação da produção na Bahia, no entanto, se encontra adi-ado devido à causa judicial aberta pelo sindicato dos trabalhadores locais. A unidade de Camaçari detém capacidade produtiva de 429.000 kmt/ano de ureia e o mesmo montante de amônia.
Ainda analisando o nível da produção doméstica, uma importante misturadora brasileira (Heringer) encerrou atividades em 9 unidades, localizadas no Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste. A despeito de, no curto prazo, o fechamento aparentar uma menor oferta doméstica de produtos formulados — e uma maior disponibilidade de produtos intermediários —, outras empresas do setor já haviam iniciado um movimento de aumento seu market-share no âmbito interno, suprindo essa demanda não atendida pela He-ringer. Conforme observado no gráfico 2, as entregas dos fertilizantes mantiveram-se em linha com o registrado nos anos anteriores.
Ademais, as unidades podem retomar suas atividades em caso de aquisição da empresa, elevando o volume ofertado no longo prazo. Neste contexto, reforça-se que a produção doméstica de fertilizantes já apresentava um declínio nos últimos anos (vide gráfico 1). O output de nitrogenados recuou 30% entre 2015 e 2017, enquanto a cadeia produtiva nacional de fosfatados disponibilizou -3% produtos no mesmo período. A exceção é observada no mercado de potássicos, o qual avançou 75% nos anos analisados. Entretanto, ressalta-se que o crescimento percentual acentuado deriva do baixo volume da produção brasileira, que totalizou apenas 281 mil toneladas em 2017.
Ademais, a forte demanda do mercado inter-na em sua maioria é suprida pelas importações — motivo pelo qual os custos de aquisição dos fertilizantes são “dolarizados”, ou seja, atrelados também à taxa de câmbio.
Deste modo, o nível elevado das importações de fertilizantes corrobora para a manu-tenção da oferta no âmbito doméstico. Os principais exportadores para o Brasil, assim, podem se beneficiar com o encerramento das atividades das plantas da Petrobrás e da Heringer, encontrando uma demanda maior por seus produtos. Entretanto, relembramos que as perspectivas de consumo dos adubos no próximo-ano safra ainda serão determinados, a depender das expectativas de rendimentos financeiros dos produtores e também das relações de troca.
Além disso, a despeito de o Brasil apresentar capacidade limitada para importação, o fechamento das fábricas e unidades de mistura dificilmente fará com que se atinja esse teto. Entretanto, apesar da expansão da capacidade nacional para importar produtos, um aquecimento das importações pode acarre-tar em atrasos nos portos, e em um aumento dos custos de internalização.