Em meio ao já particular cenário do mercado dos fertilizantes em 2021, que tem levado os preços dos principais nutrientes às máximas em quase 10 anos, mais um fator de preocupação entrou no radar nos últimos dias: a ressurgência do número de casos de Covid-19 na China e as medidas restritivas adotadas pelo país para controlar a doença. No dia 13 de agosto, com a identificação de novos casos de coronavírus, o porto chinês de Ningbo-Zhoushan, o terceiro maior porto de containers do mundo, foi fechado temporariamente, paralisando os embarques e retendo os desembarques de diversos navios. Cenário parecido com o que já havia ocorrido em maio, com o fechamento do porto do distrito de Yantian, localizado no sul da China, que provocou atraso de mercadorias até sua reabertura total no início de julho.
Evolução dos casos de Covid-19 na China em 2021
Fonte: Our World In Data. Elaboração: StoneX
Essa situação portuária tem sido relativamente comum na China nesses últimos meses, e, como em um efeito dominó, tem provocado atrasos no transporte de diversos produtos na cadeia de comércio global, resultando em escassez e retenção de navios e contêineres e consequente ascensão nos custos com frete marítimo.
Impacto das paralisações sobre o mercado de fertilizantes
Ainda há muitas incertezas a respeito dos impactos das paralisações portuárias na China, envolvendo seu tempo de duração (ainda incerto) e eventual adoção de medidas parecidas em outros terminais pelo país. Especificamente para o mercado de fertilizantes, se a paralisação portuária se restringir ao porto de Ningbo-Zhoushan, dificilmente o fluxo internacional de NPK será afetado diretamente. Isto porque o porto paralisado movimenta majoritariamente embarcações transportando cargas de contêineres, enquanto a grande maioria do transporte marítimo de fertilizantes ocorre por meio de bulk cargo, a granel. Logo, o volume de fertilizantes transacionado nos terminais de Ningbo é relativamente pequeno.
As preocupações sobre o mercado de adubos pairam justamente nos limites desta paralisação. O fechamento de terminais no porto de Ningbo-Zhoushan abre um precedente para que medidas semelhantes também ocorram em outros portos, cujo embarque de cargas a granel poderia ser mais relevante, impactando, assim, as exportações e desembarques de fertilizantes na China.
A China é uma grande produtora e exportadora de nitrogenados e fosfatados. Para o Brasil, nos 7 primeiros meses deste ano, o país asiático foi a origem de cerca de 78% das importações de sulfato de amônio e 43,5% de NP, importante fonte de fósforo nas lavouras. Além disso, 6% do MAP desembarcado nos portos brasileiros neste ano foi produzido na China.
Importação de fertilizantes no Brasil em 2021 (janeiro a julho), e participação da China (mil toneladas)
Fonte: ComexStat. Elaboração: StoneX
Apesar de não ser uma importante origem da ureia importada no Brasil, a China é a maior produtora global do nutriente, porém seu destino é mais concentrado no mercado doméstico e em exportações para países mais próximos, como a Índia. Este último permanece pouco ativo no mercado de fertilizantes nitrogenados desde o início de agosto, após a conclusão da compra de 1,2 milhão de toneladas de ureia em um leilão inverso, sendo que cerca de 700 mil foram originadas da China. Espera-se, porém, que a Índia anuncie outro leilão de compra de ureia ainda em agosto, para entrega em setembro, visando repor seus estoques após as aplicações de monções. No entanto, se uma eventual progressão dos problemas nos portos chineses avançarem sobre importantes terminais de embarque de fertilizantes, a China possivelmente limitará seu volume ofertado na licitação indiana, podendo servir como sustentador para as cotações da ureia.
Exportações chinesas de fertilizantes por nutriente, acumulado de 2020 e 2021 (mil toneladas)
Fonte: Customs China. Elaboração: StoneX
Apesar de não afetar diretamente o fluxo de fertilizantes na China, a retenção de navios nos terminais afetados pelas paralisações está atrasando a desatracação das embarcações, e consequentemente elevando o tempo de estadia destas nos portos. O atraso de navios é um significante custo logístico no comércio internacional, e seus reflexos tenderão a ser sentidos em forma de uma elevação das tarifas de fretes marítimos nos países que mantém relação comercial com a China. Isto afeta diretamente o mercado brasileiro, que mantém uma estreita parceira comercial, principalmente na venda de commodities agropecuárias.