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Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.

Perspectivas para a oferta de boi gordo no 1º giro do confinamento

1.    Introdução
Após cerca de dois meses de significativas quedas, a cotação do boi gordo voltou a se recuperar neste início de junho. Apesar da valorização ainda ser tímida, o mercado já está apostando em ganhos futuros mais expressivos, com o contrato com vencimento no final deste mês, por exemplo, saltando de R$ 309,10/@ no dia 30 de maio para R$ 322,75/@ no dia 10 de junho.

Esses ganhos estão intimamente relacionados com a diminuição da oferta de boiadas de pasto: entrando no período de seca, restaram poucos animais nas fazendas com peso suficiente para serem mandados para o abate, aumentando a concorrência entre os frigoríficos. Sendo esses os fundamentos do mercado, é possível afirmar que a entressafra já está estabelecida.

Sendo assim, a oferta nos próximos meses dependerá quase que exclusivamente dos animais provenientes dos regimes de confinamento. Consequentemente, a cotação do boi gordo será significativamente impactada pelas escolhas que os pecuaristas farão por agora: caso eles optem pelo confinamento de pequenas quantidades de animais, existirá um forte impulso para o fortalecimento dos preços; caso contrário, pode ocorrer até mesmo uma pressão sobre as cotações.

O escopo dessa matéria é justamente fazer uma análise dos fatores que influenciam nessa decisão do pecuarista. De modo geral, a opção por investir acontece apenas quando a receita que o pecuarista espera obter com a venda do boi gordo supera os custos calculados de produção. Neste sentido, o relatório relacionará os preços do boi magro e do milho, os dois principais custos do confinador, com os preços futuros do boi gordo, a fonte de receita. Comparando com a cotação destes fatores nos últimos anos, se poderá ter uma perspectiva do crescimento ou da retração no número de animais confinados no 1º giro de 2022.

2.    Análise dos dados
Para essa parte da matéria, serão instituídos alguns pressupostos. Em primeiro lugar, que os pecuaristas adquirem o boi magro e o milho no mês de maio, já que diversos estudos apontam que este é o mês em que a maior parte dos animais confinados no 1º giro entram neste tipo de regime. Em segundo, que o período de confinamento dura 100 dias. E, por fim, que o produtor olha para o contrato futuro com vencimento em agosto quando calcula sua perspectiva de receita, seguindo a lógica de entrada em maio e confinamento de 100 dias.

Feitas as considerações iniciais, sigamos para os cálculos, começando pelo boi magro. Segundo relatório do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), quase 65% dos custos do confinador estão relacionados com a compra desse animal. Sendo o principal gasto do pecuarista, é lógico que a sua precificação incide diretamente na decisão de investimento. Assim, para considerar se a aquisição do boi magro está mais atraente agora ou nos últimos cinco anos, foi levantada para cada um dos anos analisados a média no mês de maio para o contrato de boi gordo com vencimento em agosto e a média no mês de maio para o boi magro em São Paulo. Para o boi gordo, se assumiu um animal de 19@. Depois, se dividiu o primeiro valor pelo segundo, a fim de se descobrir quantos bois magros o pecuarista imaginava ser possível adquirir com a venda futura de um boi gordo. Os resultados estão apresentados na tabela abaixo.

Média no mês de maio do boi magro em São Paulo (R$/cabeça) e do contrato futuro de boi gordo com vencimento em agosto (R$/cabeça)*

Fonte: B3. Elaboração: StoneX.

 

 

 

 

Em primeiro lugar, percebe-se na comparação ano-a-ano que ambos animais apresentaram uma valorização mais contida entre 2017 e 2019, que as cotações dispararam em 2020 e 2021 e que elas voltaram a se estabilizar em 2022.

Analisando a relação de troca, percebe-se que 2020 foi o ano em que as perspectivas de lucro para o pecuarista – considerando apenas a relação entre o boi gordo e o animal de reposição – eram as menores. Isso porque, no momento da tomada da decisão, o fazendeiro acreditava que a venda de um boi gordo cobriria os custos da aquisição de apenas 1,29 bois magros, quando nos outros anos ele poderia zerar os gastos da compra de quase um animal e meio.

Para o ano atual, a relação de troca se mostra bastante favorável. Como na comparação anual o boi magro se desvalorizou 3,65% e o boi gordo apenas 1,22%, a engorda aparenta ter se tornado uma atividade mais lucrativa em 2022. De fato, a relação de troca de 1,53 é a mais vantajosa dos últimos cinco anos. Portanto, a comparação entre os preços do boi magro  e do boi gordo indica um crescimento anual no número de animais confinados.

Entretanto, os custos do confinamento não se reduzem apenas à reposição. Mais uma vez utilizando o relatório do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), a alimentação representa quase 30% do valor total, caracterizando-se, assim, como o segundo maior gasto do confinador.

Para a análise deste fator, será utilizada a cotação do milho. Isso porque esse grão é o principal componente das rações de bovinos no Brasil, estejamos falando de volumoso ou de concentrado. Sendo assim, para saber se os custos com alimentação estão mais vantajosos agora em 2022 ou nos últimos cinco anos, se analisou para cada um dos anos o valor médio no mês de maio do quilo do milho na B3 e o valor médio no mês de maio do quilo do contrato de boi gordo com vencimento em agosto. Depois, se dividiu o segundo valor pelo primeiro, a fim de se descobrir quantos quilos de milho o pecuarista imaginava ser possível adquirir com a venda futura de um quilo de boi gordo. Os resultados estão apresentados na tabela abaixo.

Média no mês de maio do milho na B3 (R$/kg) e do contrato futuro de boi gordo com vencimento em agosto (R$/kg)

Fonte: B3. Elaboração: StoneX.

 

 

 

 

Analisando primeiro os preços do milho, percebe-se que depois de anos de relativa estabilidade, esse grão passou por um processo de forte inflação em 2021, movimento impulsionado pela quebra da safrinha. Em 2022, com uma certa recuperação da oferta, o milho se tornou mais barato, sofrendo uma redução de 10,30% na comparação anual.

Para o boi gordo, a análise ano-a-ano já foi feita acima. O que é válido apontar é que o animal se tornou 1,22% mais barato no ano atual na comparação com 2021.

Com o milho sofrendo redução de 10,30% e o boi gordo de apenas 1,22%, é óbvio que a relação de troca entre esses insumos se tornou mais favorável para o pecuarista em 2022. No momento da tomada de decisão, ele acreditava que a venda futura de um quilo de boi gordo lhe proporcionaria a cobertura da aquisição de 14,58 kg de milho, valor que no ano passado era de apenas 13,26 kg.

Na comparação com os últimos cinco anos, entretanto, os custos com alimentação se mostram pouco favoráveis. De fato, a relação de troca média no período foi de 16,35 kg, valor significativamente maior que os 14,58 kg registrados em 2022.

Assim, pelo ponto de vista da alimentação, ocorrerá um aumento no número de animais confinados no ano atual na comparação com o ano anterior. Quando se compara com os últimos cinco anos, entretanto, os custos com a aquisição do milho ainda se mostram bastante elevados, o que pode inibir possíveis confinadores.

3.    Conclusão
Os cálculos da sessão 2 indicam que, no momento da tomada de decisão, tanto o boi magro, como a alimentação se mostraram relativamente mais baratos em 2022 quando comparados com 2021. Portanto, mesmo com o milho ainda em patamares bastante elevados, poderemos observar um crescimento anual no número de animais sendo mandados para o confinamento.

Entretanto, é necessário fazer algumas considerações. Em primeiro lugar, que os cálculos foram feitos com base nas cotações de São Paulo. Apesar desse estado ser a referência de preço para o restante do país, é possível que em outras regiões com tradição no confinamento, caso de Goiás, Mato Grosso, entre outras, esta atividade se mostre menos favorável. Ademais, é preciso levar em conta que nem sempre o pecuarista segue a mesma base de cálculo aqui estabelecida, com ele podendo optar por uma estratégia alternativa.

Considerando que esse possível crescimento da oferta seja concretizado, seu impacto sobre os preços dependerá do volume da demanda. Ano passado, o inesperado embargo chinês primeiro produziu quedas abruptas na cotação do boi gordo, mas depois, ao inibir a decisão de confinar no segundo giro, produziu uma recuperação ainda mais expressiva. Assim, o que se pode constatar é que, comparando a relação entre o preço futuro do boi gordo e os principais custos do confinamento, a condição para 2022 aparenta ser mais favorável que em 2021.

Por outro lado, é interessante pontuar também que, pelo fato do ano passado já ter sido desafiador para o confinador e os custos continuarem em patamares muito elevados, o confinamento pode ser desestimulado. Para além disso, ainda não é possível extrair grandes conclusões. Se recomenda o acompanhamento dos relatórios da StoneX a fim de se antecipar quaisquer possíveis impactos futuros e mudanças nas perspectivas para o mercado.

Felipe Sawaia

Estudante de Ciências Econômicas pela Unicamp. Trabalha desde 2021 na Inteligência de Mercado da StoneX, com foco nas áreas de pecuária e grãos.

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