O par dólar/real abriu em queda de 0,4% nesta terça-feira (14), chegando a ser negociado abaixo dos R$ 5,17. O movimento da moeda brasileira acompanhava os sinais positivos vindos do cenário externo, após a divulgação de dados melhores do que o esperado para a economia chinesa e de indícios de que Itália e Espanha começaram a afrouxar as medidas de distanciamento físico exigidas pela pandemia novo coronavírus.
De acordo com os dados alfandegários da China, as exportações do país se encolheram em 6,6% em março, no comparativo com o mesmo mês do ano passado, abaixo do consenso dos analistas, que projetavam uma queda de 14%, e menor do que a queda acentuada de 17,2% observada no primeiro bimestre de 2020. Com a retomada das atividades no país ganhando força, a tendência é de que essa contração nas exportações se reduza nos próximos meses, entretanto o cenário ainda não é claramente benigno. O retorno à “normalidade” na China ocorre de maneira dessincronizada com o restante do mundo, que ainda deve manter em vigor as medidas de contenção à COVID-19. Por essa razão, a demanda global deve seguir em níveis mais fracos nos próximos meses, limitando as expectativas para a recuperação dos indicadores comerciais chineses no curto prazo.
Ainda no cenário externo, os mercados acompanhavam a divulgação das projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o desempenho da economia mundial em meio à crise resultante da pandemia do novo coronavírus. De acordo com o Fundo, esta deve ser a recessão mais profunda desde os anos 1930, com expectativa de queda de 3,0% no PIB mundial em 2020, e uma recuperação rápida de 5,8% em 2021. Os riscos de novas ondas de COVID-19 entre o final deste ano e o ano que vem, e de atrasos no desenvolvimento e distribuição de uma vacina contra o novo coronavírus, são fatores que poderiam atenuar a retomada global em 2021.
O desempenho da economia mundial deve ser desigual neste ano, com expectativa de recuo acentuado nas economias avançadas, com queda de 6,1%, puxado pelos Estados Unidos (-5,9%) e pela zona do euro (-7,5%), e de contração menos brusca nas economias emergentes (-1,0%). A Ásia emergente (1,0%), em especial a China, Índia e economias da ASEAN devem mostrar-se mais resilientes nesta crise, enquanto a América Latina (-5,3%), Rússia (-5,5%) e África do Sul (-5,8%) podem ficar entre os maiores perdedores.
Sobre o Brasil, a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, comentou que a incidência de choques múltiplos, vindos da queda dos preços das commodities nos últimos anos e da desaceleração de parceiros comerciais importantes, como a China, colocam o país em uma situação mais frágil neste momento de crise. Apesar de ressaltar a importância da manutenção de uma agenda de reformas econômicas no médio prazo, a economista-chefe recomenda que o foco da política econômica deve estar voltado para o combate à COVID-19 neste momento. De acordo com as projeções do FMI, o Brasil pode contrair-se em 5,3% neste ano e recuperar-se parcialmente em 2021, avançando 2,9%.
No cenário doméstico, as atenções estão voltadas para os embates entre os Poderes em Brasília e para a possibilidade de demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em entrevista nesta terça-feira, o vice-presidente, Hamilton Mourão, comentou que Mandetta passou do limite em declarações feitas no domingo, ao afirmar que a população estava confusa pelas mensagens conflitantes entre o presidente Jair Bolsonaro e o Ministério da Saúde, sinalizando que o ministro possa ter perdido um apoio importante no governo.
O dólar voltou a avançar por volta das 12h, e opera novamente dentro da faixa dos R$ 5,20. A aprovação do plano de ajuda emergencial a estados e municípios pela Câmara, e as preocupações com o impacto fiscal dessa medida, ajudavam a pressionar a moeda brasileira.