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Fernando Maximiliano

Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.

Quais seriam os efeitos de uma forte geada para a safra brasileira de café?

Uma análise técnica do risco de geada no Brasil

O contrato “C” de café em Nova Iorque perdeu 4500 pontos a partir de 133,00 US¢/lb em outubro de 2018 até atingir uma mínima de 88,00 US¢/lb em maio de 2019 e, após uma recuperação na segunda metade do mês, voltou a cair em junho, atingindo 94,00 US¢/lb. A queda intensa é atribuída à ampla oferta de café no mercado global, que deve ter continuidade em meio à grande produção do Brasil no ciclo de baixa e expectativas de safra novamente robusta em 2020/21. Além disso, a previsão é de que produções no Vietnã e na Colômbia sejam ainda maiores para 2019/20 em comparação com 2018/19.

As exportações brasileiras de café têm atingido volumes nunca antes vistos, com a CECAFÉ esperando um total de 40 milhões de sacas de 60kg para 2018/19. Também têm sido altas as exportações de outras origens, como Vietnã e Colômbia. Como resultado, os estoques certificados da ICE são atualmente estimados em 2,38 milhões de sacas, enquanto os armazéns da Green Coffee Association (GCA) são vistos em 6,6 milhões.

Em meio a fatores fortemente baixistas, as condições climáticas mostram ter um papel mais decisivo no mercado global de café. Qualquer problema climático nos países produtores pode alterar o balanço global e, certamente, os preços do café em Nova Iorque e no mundo.

No momento, é inverno no Brasil — maior produtor global de café — e possíveis geadas levam os participantes do mercado a monitorar as temperaturas no país. Mas por que as geadas causam tanta preocupação para a produção cafeeira do Brasil?

Em primeiro lugar, a ocorrência de geadas em áreas produtoras do Brasil já se mostrou capaz de danificar a produção de um ano inteiro. Em 18 de julho de 1975, uma forte geada atingiu áreas cafeeiras do país e fez a produção despencar para 9,3 milhões de sacas em 1976 em comparação com 23 milhões em 1975. Os dados são do USDA. O estado do Paraná foi o que mais sofreu. Na época, a produção paranaense era a maior do Brasil, totalizando 10,2 milhões de sacas em 1975 — 44,3% do número nacional. Em 1976, após o forte fenômeno, a produção do estado quase chegou a zero.

Em junho e julho de 1994, outra forte geada causou danos a áreas de café do Brasil. Antes do evento, as produções de São Paulo e Paraná eram de 4,3 e 2,8 milhões de sacas respectivamente, com a geada levando a níveis de 1,6 milhão de sacas em São Paulo e quase zero no Paraná. A produção total do Brasil naquele ano foi de 25,9 milhões de sacas para 12,5 milhões, elevando os preços de 100,00 US¢/lb para quase 250,00 US¢/lb.

Desde então, a produção cafeeira brasileira tem mudado. O Paraná já não tem a mesma representatividade em termos de área plantada e produção. Desde então, a área do estado tem sido reduzida, e sua participação no total nacional tem caído. Enquanto em 2001 o Paraná possuía 96.000 hectares de café, representando 4% do total brasileiro, em 2019, essa área é estimada em 38.000 hectares, apenas 2% da área nacional. Em contrapartida, outras regiões têm ganhado destaque em termos de área, principalmente o sul de Minas Gerais e o Espírito Santo.

Para compreender os danos de uma forte geada sobre as áreas de café do Brasil, calculamos a probabilidade de uma ocorrência do fenômeno climático usando a equação de Camargo. Camargo desenvolveu a equação com base em um histórico de temperatura de 30 anos de agências climáticas do Brasil, com altitude, latitude e longitude. Abaixo está a equação de Camargo:

Onde P é a probabilidade de ocorrência de temperaturas abaixo de 1°C, A é a altitude local, LA é a latitude local (em minutos) e LO é a longitude local (em minutos).

Usando a equação de Camargo, a área sob risco em caso de uma geada severa no Brasil foi estimada conforme Figura 4.

A área total que poderia ser afetada no caso de uma geada severa foi calculada cruzando a área plantada de café com a área de probabilidade de ocorrência de geadas.

No Paraná, uma forte geada poderia fazer com que 21 municípios produtores fossem danificados, incluindo Carlópolis, Ibaiti e Pinhalão. Isso representaria 71% da área plantada do estado, ou 28.523 hectares dos 40.100 atualmente plantados. Considerando a produtividade do Paraná em 2018, que foi de 26 sacas por hectare de acordo com a Conab, a perda na produção poderia representar 741.598 sacas.

Em São Paulo, 35 municípios estão localizados na área com probabilidade de geadas, incluindo Garça, Altinópolis e Espírito Santo do Pinhal. Em caso de uma geada severa, cerca de 53% da área plantada total de São Paulo seria danificada, contabilizando 108.019 hectares. Tomando-se a produtividade média do café em São Paulo em 2018, isso representaria 3,3 milhões de sacas.

No maior estado produtor de café do Brasil, Minas Gerais, um número impressionante de 96 municípios seria afetado no caso de uma geada severa. Três Pontas, Nepomuceno, Carmo da Cachoeira e Machado são alguns dos municípios mais importantes que teriam perdas de produção. Uma área total de 416.542 hectares seria danificada, o que representa 34% do total plantado de café em Minas Gerais. Considerando a produtividade média estimada pela Conab em 2018, isso significaria uma perda de 13,7 milhões de sacas.

Uma vez que 2,2 milhões de hectares no Brasil são cobertos com cafezais, o cenário representaria 26% da área plantada total, e uma perda, em termos de produção, de 17,8 milhões de sacas. Uma geada com a intensidade descrita acima é muito improvável, porém, foi o que ocorreu em 1975, 1979 e 1994 no Brasil.

O que aumentaria a probabilidade de uma geada prejudicial? Em 2017, a Coffee Network explorou a correlação entre mínimas solares e geadas no Brasil. Mínimas solares, ou períodos de menor atividade solar no ciclo de 11 anos do sol, podem ser classificadas como intervalos de menor quantidade de manchas escuras na superfície solar.

“Os anos entre dois e três anos dessa mínima historicamente têm uma probabilidade maior de geadas no Brasil”, disse Drew Lerner, presidente da World Weather Inc., à Coffee Network em uma entrevista na época. “Quando há várias manchas, o sol se torna mais quente do que o normal; menos manchas, e ele esfria.”

A mínima solar começou em 2018 e deve continuar até 2020, o que indicaria aumento na probabilidade de geadas este inverno no Brasil.

“Os eventos de geadas e congelamento que ocorreram no Brasil agruparam-se em torno de mínimas de manchas solares”, diz ele. “Apenas dois períodos de mínimas solares conseguiram escapar de geadas desde 1900: 1920 e 2008.”

Outros fatores também podem ser analisados para determinar se existe maior probabilidade de geadas prejudiciais no Brasil. O ciclo de 18 anos refere-se a um padrão de corrente de jato que se repete a cada 18 anos. “Se o padrão sugere que a corrente de jato pode suportar ar frio, isso pode indicar maiores chances de uma geada”, diz Lerner. Além disso, é importante monitorar de perto das temperaturas oceânicas. Se as temperaturas na costa do Brasil tiverem tendência de esfriamento, geralmente existe uma correlação entre níveis mais baixos e clima mais frio.

Fernando Maximiliano

Engenheiro Agrônomo formado pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Participante do Brazilian Scientific Mobility Program (BSMP) na Oregon State University, Estados Unidos. Possui experiência em pesquisa e análise de mercado. Trabalha na divisão de Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil com foco em Café.

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