AÇÚCAR & ETANOL
Leonardo Rossetti

Leonardo Rossetti

Formado em Ciências Econômicas pela UNICAMP, trabalha desde 2019 na Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil, atuando nas análises sobre os mercados de café, cacau, câmbio e macroeconomia.

Dúvidas quanto à oferta e queda do dollar index proporcionam forte rali nas cotações do cacau

Após duas semanas de maior estabilidade, interrompendo as fortes altas entre o final de julho e início de agosto, a última semana registrou novamente expressivas altas nas principais bolsas de negociação do cacau, afetadas por novas dúvidas sobre as condições da próxima safra e por uma nova retração do dólar no mercado internacional.

Na ICE em Nova York, as cotações para o segundo contrato com vencimento mais próximo, de dezembro/20, avançou mais de USD 200/t no comparativo com a sexta-feira anterior (21), registrando uma alta semanal de 8,9% para encerrar cotado a USD 2.623/tonelada, maior patamar em cerca de 5 meses e meio.

Em Londres (ICE Europe), apesar de não tão forte quanto no terminal americano, os avanços foram também significativos. O contrato equivalente encerrou a sexta-feira cotado a GBP 1762/tonelada, em uma valorização semanal de 6,2%, chegando a seu maior valor em 2 meses.

Intraday semanal (dezembro/20) – 24/08 – 28/08

Fonte: CommodityNetwork Traders’ Pro. Elaboração: StoneX.

O tempo no oeste africano, que vem apresentando clima seco e com chuvas abaixo da média, atuou como um dos principais fatores para as altas, com o mercado elevando suas preocupações com relação à produção da próxima safra. Os receios se elevaram após o presidente da Associação do Cacau da Nigéria afirmar que a produção de cacau do país, quinto maior produtor global, deve cair em torno de 20% na nova temporada, como consequência dos impactos econômicos da pandemia da COVID-19 e do clima seco.

Sofrendo também com os impactos das medidas de combate ao novo coronavírus, a Costa do Marfim reduziu oficialmente as estimativas do PIB do país para 2020. Segundo o presidente marfinense, Alassana Ouattara, o país, que no início do ano projetava um crescimento de 7,2%, reduziu suas projeções para um avanço de 1,8% em sua economia. A Costa do Marfim crescia cerca de 8% ao ano desde 2012, no entanto, os profundos impactos do combate à pandemia na agricultura, construção, transporte e turismo abalou a dinâmica econômica do país.

Ademais, as recentes retrações do dólar têm favorecido às cotações das commodities como um todo, que em grande parte são dolarizadas no mercado internacional. Na última semana, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, anunciou mudanças nas diretrizes de atuação do banco central, afirmando que este adorará uma meta de inflação média, de forma a permitir maior liquidez ao mercado americano. As mudanças aumentaram a busca por ativos de maior risco, e levaram o dollar index, que compara a moeda americana com uma cesta de moedas de países desenvolvidos, a buscar novamente seus menores patamares em mais de 2 anos.

Neste mesmo período, vem se observando uma retomada dos preços das commodities. É possível observar através do gráfico abaixo uma correlação inversa bem definida entre o dollar index e o índice CRB, composto por uma cesta de commodities negociadas em bolsa.

Aliado ao contexto do mercado, os fundos especulativos também têm atuado de forma a impulsionar as altas das cotações do cacau. Após a intensa redução de um saldo vendido de 30.404 lotes em futuros e opções de cacau, os fundos continuam ampliando suas compras, que passaram de 18.908 lotes no início de julho para 35.812 em 25 de agosto, segundo o último relatório Commitment of Traders (COT) da CFTC, chegando agora a um saldo comprado de 7.616 posições.

Dollar Index vs. CRB

Fonte: Reuters. Elaboração: StoneX.

Preocupações com as condições climáticas na África
Ocidental aumentam

O clima desfavorável elevou o receio dos agentes de que as subsequentes semanas de chuvas abaixo da média possam gerar impactos negativos no desenvolvimento da safra 2020/21, que inicia em outubro. Os produtores da Costa do Marfim, principal produtor mundial, têm apresentado perspectivas positivas para a colheita, afirmando que a umidade do solo tem garantido bom desenvolvimento para os frutos da safra principal, que começam a ser colhidos em setembro. Apesar do clima não ideal, a percepção de que este vinha apresentando condições boas o suficiente para o desenvolvimento da produção, sobretudo na Costa do marfim, mantinha o mercado ainda bastante preocupado com a quebra na demanda, com viés baixista. No entanto, tem se observado a necessidade de que ocorram chuvas regulares em setembro e outubro para que a boa produtividade da safra se estenda para os primeiros meses do próximo ano.

A percepção da gravidade do clima ruim e de poucas chuvas aumentou após a Associação do Cacau da Nigéria estimar queda de cerca de 20% em sua produção na temporada 2020/21. As projeções da Organização para o encerramento da safra 2019/20, previamente de 305 mil toneladas, caíram para 250 mil toneladas. Segundo o presidente da Associação, o clima bastante seco e os impactos das medidas de combate à pandemia no país, que limitaram o acesso e importação de insumos para as plantações, podem afetar negativamente a produtividade dos cacaueiros.

O Índice de Saúde da Vegetação (VHI), que pondera as condições de umidade e temperatura de uma área, tem confirmado as piores condições climáticas nas últimas semanas. Dentro dos critérios do índice, as condições são consideradas favoráveis quando acima de 60, e desfavoráveis quando abaixo de 40.

Observando o indicador para Costa do Marfim e Gana, dois principais produtores globais, o VHI se encontra abaixo do nível no mesmo período no último ano. Na Costa do Marfim, o indicador seguiu acima das médias dos últimos anos em boa parte de 2020, mas recuou de forma intensa desde meados de julho, quando ultrapassou o limiar dos 40 pontos para assumir condição desfavorável para cultivo.

O fator climático deve continuar sendo o ponto chave pelo lado da oferta. Caso as chuvas mantenham-se escassas e o VHI continue em níveis muito baixos ao longo dos próximos meses, e se constate  que pode haver de fato uma perda real da produtividade dos cacaueiros, este pode continuar oferecendo algum suporte aos preços, apesar das expectativas do mercado de demanda mais fraca e preços pressionados até o final do ano.

ICCO revisa estimativas de balanço global para superávit

Índice de Saúde da vegetação da Costa do Marfim

Fonte: NOAA. Elaboração: StoneX.

A Organização Internacional do Cacau (ICCO) publicou a revisão trimestral de suas estimativas para os principais indicadores da safra 2019/20, alterando as projeções de déficit de 80 mil toneladas, realizadas em maio, para um superávit de 42 mil.

A principal mudança ocorreu nas moagens, que sofreram ajuste para baixo de 149 mil toneladas (-3,1%), indo em linha com as menores perspectivas para a demanda por chocolates devido aos impactos econômicos da pandemia da COVID-19, que têm reduzido a compra de derivados pelas indústrias alimentícias, sobretudo de manteiga, explicitada pelas quedas nas moagens no segundo trimestre nas principais regiões processadoras. As principais diminuições, de 20 mil toneladas, ocorreram nas projeções de processamento nos Estados Unidos, Indonésia e Malásia, que caíram para 480 mil, 380 mil e 330 mil toneladas, respectivamente. Gana e Cingapura tiveram reduzidas 15 mil toneladas, caindo para 300 mil e 80 mil toneladas.

Pelo lado da Produção, a ICCO destacou as preocupações com a manutenção da COVID-19 nos países,  a limitação no acesso de insumos essenciais como mudas, produtos químicos e fertilizantes, e o clima desfavorável, para reduzir as projeções de produção em 56 mil toneladas (-1,2%), para 4.724 milhões de toneladas. As principais reduções foram de 20 mil toneladas na Costa do Marfim (para 2.130 milhões) e de 10 mil na Nigéria (para 250 mil). Para o Brasil, a ICCO manteve as expectativas de que a temporada termine com uma produção de 190 mil toneladas, o que seria 8,1% acima da anterior, mas expressou preocupações com as chuvas excessivas e as temperaturas abaixo de 20°C na Bahia, que tem elevado os riscos de que a doença da podridão parda afete os cacaueiros.

Desta forma, a estimativa para os estoques globais subiu em 42 mil toneladas, para 1,760 milhão, elevando
a relação estoque/esmagamento de 34,2% para 38%.

Apesar das altas recentes dos preços, e da abertura gradual das economias, a ICCO não espera uma recuperação rápida da demanda, estimando que a moagem de cacau dos países importadores deva cair 5% para 2.470 milhões de toneladas em 2020, com a tendência de que a demanda permaneça morna neste ano.

Balanço global de oferta e demanda de cacau (mil t)

Fonte: ICCO        . Elaboração: StoneX.

Estimativas de produção global (mil t)

Fonte: ICCO. Elaboração: StoneX.
* países que tiveram estimativas alteradas.

TABELA DE INDICADORES

Leonardo Rossetti

Formado em Ciências Econômicas pela UNICAMP, trabalha desde 2019 na Inteligência de Mercado da StoneX do Brasil, atuando nas análises sobre os mercados de café, cacau, câmbio e macroeconomia.

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