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Inteligência de Mercado

Perspectivas para o mercado europeu de açúcar dentro do novo regime

Estoques apertados e preços acima do mercado internacional pressionam exportações, mas área plantada deve se manter elevada

A principal mudança no mercado europeu de açúcar ao longo dos últimos anos ocorreu entre o final de setembro e o começo de outubro, com a desregulação do mercado do adoçante na União Europeia. Como já discutimos em relatórios e Estudo Especial anteriores, o principal impacto da medida será a possibilidade de aumento da produção no continente, conforme os produtores mais eficientes procuram acessar o mercado internacional para aumentar suas vendas.

Para a safra 2017/18, que deve avançar até os primeiros meses do próximo ano, o aumento na produção já está praticamente garantido. Em nossa última estimativa de produção global, publicada esta semana, projetamos aumento de 20,6% na produção da UE sobre a safra anterior, atingindo assim 18,9 milhões de toneladas (valor branco). Este aumento é resultado principalmente da expansão em 16,2% na área plantada, mas o clima melhor que os anos anteriores também contribuiu para continuidade do crescimento da produtividade.

Ao mesmo tempo que a produção do bloco deve crescer fortemente, a demanda, por outro lado, deve sofrer pressão. Como na maioria dos países desenvolvidos, as grandes economias da UE vêm reduzindo o consumo per capita de açúcar devido a preocupações com a saúde. Além disso, a produção de xarope de glicose também foi liberalizada em outubro, o que deve aumentar a competição  o mercado de adoçantes calóricos.

Com isso, a produção de açúcar deve superar a demanda do continente de maneira significativa pela primeira vez desde 2005/06. O excedente é estimado em 1,75 milhão de toneladas. Com isso, cabe a pergunta: até que ponto o aumento da produção será destinado ao mercado externo?

Exportações, estoques e preços

Exportações de açúcar não são novidade para os produtores europeus. Mesmo que o bloco importasse mais produto do exterior do que vendesse para fora, ainda assim as usinas da UE exportaram entre 1 e 3 milhões de toneladas todos os anos ao longo da última década. A maior parte deste volume teve como destino a África, o Oriente Médio e outros países europeus que não participam do bloco.

Agora, além das exportações do bloco provavelmente aumentarem com o fim das cotas, as importações também devem cair com a competição mais acirrada pelo mercado doméstico. Desta forma, é possível que o bloco se torne exportador líquido (exportações maiores que importações) pela primeira vez desde 2006.

Por outro lado, é cedo para dizer que a maior parte do incremento na produção será destinado ao mercado externo. O principal motivo para isso é o baixo nível de estoques no final da safra 2016/17. Dados do Departamento de Agricultura dos EUA mostram os estoques finais desta safra no menor nível da série histórica, em 712 mil toneladas, o que representa menos de um quarto da média dos últimos cinco anos e o consumo de aproximadamente duas semanas. Apesar de haverem estimativas diferentes a este respeito, é consenso que os estoques terminaram a safra anterior muito apertados.

Com isso, o preço do açúcar no mercado doméstico europeu se manteve, em média, acima de €500/t até agosto, último dado oficial da UE. Isso representa um prêmio de mais de €180/t em relação ao mercado internacional, o que é um reflexo dos estoques apertados. A partir do início da safra, informações locais indicam queda considerável dos preços, como era de se esperar. Ainda assim, os preços de negociação da safra nova continuam de €40 a €90 por tonelada acima do mercado internacional.

Neste cenário, é provável que a maior parte do incremento na produção seja destinada ao mercado doméstico, ajudando a recompor os estoques do continente para patamares mais confortáveis. Além disso, se o preço médio oficial cair abaixo de €404/t, auxílio para estocagem do produto será oferecida pela UE, incentivando ainda mais o carrego.

Esta mudança na perspectiva de exportação na Europa foi uma das principais responsáveis pela reversão no movimento dos spreads V7-Z7 e Z7-H8 na bolsa de Londres. Nos doze meses transcorridos entre setembro de 2016 e agosto de 2017, estes spreads caíram de uma inversão significativa para carrego de entre $5 e $10/t, refletindo o aumento na expectativa de exportação europeia. A partir de agosto, entretanto, o movimento foi revertido e ambos spreads subiram até alcançar o patamar de inversão, resultado das expectativas de exportações menores graças aos estoques apertados.

Perspectivas para a área plantada em 2018/19

Com os estoques de açúcar apertados na UE a convergência esperada entre o preço doméstico do produto no bloco e o mercado internacional pode demorar a acontecer. Esta discrepância entre os mercados deve ser favorável aos produtores de açúcar na União, uma vez que a parcela do produto vendida no mercado doméstico será negociada a preços mais elevados.

Enquanto isso, os produtores que aumentaram sua produção com o objetivo de destinar os volumes adicionais ao mercado externo são apenas os grupos mais eficientes do mercado europeu. Informações locais nos indicam que preços internacionais na casa de €330/t já seriam suficientes para que estes produtores continuem exportando. Isso porque este patamar é suficiente para pagar os fornecedores de beterraba destes grupos, além dos demais custos variáveis associados à produção adicional. Ou seja, a redução da capacidade ociosa das usina já justificaria a produção adicional para exportação, no caso destas empresas mais eficientes.

Por isso, projetamos que a área plantada deve permanecer pouco alterada para a próxima safra, considerando que os preços internacionais permaneçam dentro do range atual. Além dos fatores mencionados, outros quatro fatos contribuem para esta previsão:

  1. Parte significativa dos fornecedores de beterraba já negociou contratos de médio e longo prazo (2 a 5 anos) com as usinas, reduzindo a possibilidade de redução de área.
  2. A maior parte dos grandes grupos produtores de açúcar do bloco são cooperativas de fornecedores de beterraba ou são empresas nas quais estes agricultores são os principais acionistas. Com isso, estes últimos não teriam interesse em reduzir a produção de beterraba se isso significar aumentar a capacidade ociosa na indústria.
  3. Grande parte dos contratos de fornecimento de beterraba inclui indexação com o preço do açúcar na UE. Desta forma, a redução no preço também diminui o custo das usinas.
  4. Com forte produção de cereais (trigo, milho e cevada) e oleaginosas (principalmente canola) na Europa, os preços dos produtos que competem em área com a beterraba também estão pressionados. A principal razão para isso tem sido a expansão da produção na Rússia e Ucrânia, tanto devido ao aumento de área, como ao clima muito positivo.

Caso ocorram variações significativas no preço internacional do açúcar ou das culturas concorrentes, entretanto, é possível que ocorra mudança na área plantada no ano que vem. Ainda assim, estimamos que estas variações seriam suaves, com um aumento máximo projetado em 4% e redução de 3% no pior cenário considerado para o preço do adoçante no mercado internacional.

 

Matéria escrita por João Paulo Botelho, colaborador StoneX até outubro de 2019.

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